quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Nazaré

Nazaré








A Nazaré situa-se em  plena região estremenha. Pertence ao distrito de Leiria, e está localizada a cerca de duas horas da cidade do Porto e a uma hora de Lisboa.  Terra de pescadores, de praias de extenso areal e de ondas grandes que fazem as delicias dos  surfistas. Mas quando se pensa na Nazaré, a imagem que nos vem logo à memória são as Nazarenas envergando as suas sete saias (tantas quantas os dias da semana, as cores do arco-íris e as virtudes).  As sete saias fazem parte da tradição, do mito e das lendas desta terra tão intimamente ligada ao mar.







Mas vamos recuar no tempo e conhecer um pouco da história da região

Em 1643 surgem as primeiras referências à pesca na Nazaré.
Onde existe actualmente o casario, existiam dunas e os pescadores habitavam o Sitio e Pederneira, pois o areal era pouco seguro devido aos ataques de piratas holandeses e argelinos.
No Sec. XIX após as invasões Francesas, surgem finalmente condições para a população se fixar junto à praia.
Em meados do século XIX a Nazaré começa a ser procurada como destino de praia.
A pesca e a transformação do pescado, foram ao longo do sec. XX as principais actividades da população da Nazaré.
Na década de oitenta foi construído o Porto de Pesca e Recreio que em muito contribuiu para a melhoria das condições de vida dos pescadores.


Anualmente a Nazaré é visitada por milhares de turistas nacionais e estrangeiros, que não resistem ao charme e à forma de vida  peculiar das suas gentes. 







A seca do peixe

A seca do peixe é realizada diariamente por um grupo de peixeiras, num "estindarte" (estendal) localizado na praia, ao Sul.

Um passeio pela marginal leva-nos até à zona em que se dá o processo da seca do peixe. De mãos curtidas pelo sal e pelo sol, a D. "Maria" se me permite chamar-lhe assim, mostrou-me com orgulho o seu peixe seco, que transportava do "estindarte" até à banca de venda junto ao muro da marginal. Minha filha isto com com uma batatinha cozida é do melhor...
E a D. "Maria" com a simpatia que caracteriza as mulheres da Nazaré, lá me foi explicando como se desenrola o processo da seca do peixe.

Antigamente secava-se o peixe em excesso para sustento das famílias em altura de escassez. As espécies mais utilizadas sempre foram o carapau de vários tamanhos, os batuques, a sardinha, o cação e o polvo.
Existem duas formas de secar o peixe, o "peixe seco" e o "peixe enjoado"  e são confeccionados de forma diferente.
"Peixe seco"
 Primeiro arranja-se o peixe  retirando-se as tripas, depois lava-se e passa-se por uma salmoura de água e sal grosso (antigamente este processo era feito com água do mar). Por fim o peixe é aberto (ou escalado) e coloca-se nos paneiros ao sol.
Dependendo das condições atmosféricas e da temperatura do ar a secagem demora 2 a 3 dias.
Apesar de se poder comer cru desfiado, por norma este peixe é cozido e acompanhado de batatas cozidas, bem regado com azeite, com umas gotas de limão e alho picado a gosto.
"Peixe enjoado"
Este processo é idêntico ao anterior, só diferindo o tempo que está ao sol. Arranja-se o peixe e coloca-se nos paneiros apenas um dia ao sol. Fica meio seco! 
Este peixe é para ser consumido grelhado, acompanhado de batata cozida ou em cebolada. O peixe mais utilizado neste processo é o carapau médio.
O polvo pode ser consumido cru, mas é mais confeccionado em arroz ou saladas, o cação é cozido tal como o carapau e os batuques, a sardinha é assada na brasa.
Cada espécie de peixe tem uma forma diferente de secagem. 

















Os paneiros, onde o peixe é colocado a secar, são grandes rectângulos de madeira, onde é aplicada rede de pesca (das redes da arte xávega) esticada, de modo a que o ar circule e seque o pescado.























































































Na marginal, ao lado das vendedoras de peixe encontram-se pescadores que vendem redes e artesanato da região!














Enquanto caminhamos contemplando o mar, uma frase no muro da marginal chama-nos a atenção...
... um pedido de casamento! 
Que romântico!
Ninguém resiste ao charme da Nazaré!











As típicas barraquinhas da praia da Nazaré.














 O Promontório 

O Promontório da Nazaré é uma das mais espectaculares formações rochosas litorais que se encontra em plena Bacia Lusitânica.








O traje


Marca cultural de um povo e da sua forma de estar, o traje ilustra, na Nazaré, a vivência do mar e da pesca. Funcional e prático ou harmonioso e elaborado, o modo de vestir reflecte a personalidade dos nazarenos.

Adaptado ao longo dos anos, não só às necessidades da vida e da faina, mas também às tendências da moda (altura das saias, tecidos e padrões), sobretudo o traje feminino, que ainda hoje continua a ser bastante usado no dia a dia da terra, está longe de ser uma peça museológica.

No traje de trabalho as mulheres usam saia de baixo branca, por cima desta 2 ou 3 saias de flanela colorida caseadas a lã; algibeira; saia de cima de caxemira ou terilene ; avental de “riscado”, de cor escura e com bolsos; casaco ou blusa simples; cachené; xaile traçado e chinelas ou descalças. 


Menos conhecido por ser cada vez mais raro, é o traje das viúvas. Todo em preto, sem rendas ou bordados, sendo as saias de baixo cinzentas. Actualmente só as mulheres mais idosas continuam a usar este traje.

O traje nazareno feminino continua a ser usado no dia a dia pelas mulheres de mais idade, sobretudo as mais ligadas ao mar e à venda de peixe.



O traje do pescador era adaptado às condições da vida marítima, oferecendo liberdade de movimentos, sendo simultaneamente leve e agasalhador.

Os tecidos mais comuns para a confecção das camisetas e ceroulas que usavam, eram o escocês, a caxemira axadrezada e o surrobeco. Para completar o traje usavam barrete preto de lã e cinta preta enrolada à volta da cintura. No traje de trabalho, as ceroulas eram pregueadas e largas, com trenas de lã (atilhos) na bainha para poderem ser usadas justas, soltas ou arregaçadas, conforme as necessidades.

























O elevador da Nazaré

Devido ao seu difícil acesso só no Sec. XVII o Sitio se começou a desenvolver. A instalação de um elevador mecânico, para ligação entre o Sitio e a Praia em 1889, veio dar um novo incremento populacional ao lugar. 
O autor do projecto foi o engenheiro de origem francesa Raul Mesnier du Ponsard, discípulo de Eiffel e também responsável pela maioria dos elevadores de Lisboa
Foi adquirido pela Confraria de Nossa Sra. da Nazaré, em 1924, com vista à angariação de fundos para a manutenção do Hospital e também de modo a facilitar o acesso dos fiéis ao Santuário.  
Após vários acidentes e remodelações, em 2002 são inauguradas novas carruagens modernas e confortáveis. O elevador é hoje um dos "Ex-libris" da vila.






























No Miradouro do Suberco, a 110 metros de altitude podemos apreciar um dos panoramas marítimos mais bonitos de Portugal.  









Artesanato à venda no Sitio



Santuário de Nª Senhora da Nazaré

Este belo santuário situa-se no Sitio da Nazaré, no seu interior encontra-se a Sagrada imagem de Nossa Senhora da Nazaré, uma imagem esculpida em madeira negra trazida de Mérida em 711.







Em 1377, o Rei D. Fernando mandou construir a primitiva igreja para albergar a sagrada imagem e dar acolhimento ao grande número de peregrinos em visita à Senhora da Nazaré, tornando-se no mais antigo e importante Santuário Mariano português até ao início do século XX.





No corpo da igreja, iluminado por oito janelas, com cobertura semi-cilíndrica de madeira apainelada, existem quatro altares de talha dourada, de 1756, e dois púlpitos da mesma época. À entrada, sustentado por colunas dóricas caneladas, ergue-se o coro alto com um orgão no centro. Acede-se ao cruzeiro, coberto por uma cúpula de pedra com lanternim, por um grande arco encimado pelas armas reais. Em cada braço do transepto, coberto por abóbada de pedra, há um altar, estando as paredes dos topos cobertas por azulejos holandeses, que adornam as paredes de alto a baixo como tapeçarias. No braço direito os painéis descrevem cenas da vida de David. À esquerda mostram episódios da vida de José, filho de Jacob. Existem ainda dois outros painéis, com cenas do episódio bíblico de Jonas o profeta, com a baleia, encimados por anjos, situados sobre as portas que conduzem aos alpendres. No vão da porta sul vêem-se dois painéis mutilados com figuras de convite em forma de soldado romano. Todos estes painéis do transepto, num total de 6568 azulejos, foram encomendados pela administração do Santuário, em 1708, à empresa de Willelm van der Kloet (1666-1747), em Amesterdão, na Holanda.











A Lenda da Nossa Senhora da Nazaré


Uma curiosa Lenda atribui o topónimo Nazaré a uma imagem da Virgem oriunda de Nazareth, na Palestina, que um monge grego teria trazido até ao Mosteiro de Cauliniana, perto de Mérida, no século IV. No século VIII teria chegado ao Mosteiro o fugitivo Rei D. Rodrigo, último rei visigodo da Península Ibérica, depois da sua derrota, frente aos Mouros, em Guadalete. Aí teria encontrado Frei Romano que o acompanhou na sua fuga, trazendo com ele a imagem da Virgem e uma caixa com as relíquias de S. Brás e de S. Bartolomeu. Antes de morrer, Frei Romano teria escondido a imagem numa lapa, no Sítio, onde ficou guardada durante quatro séculos, sendo então descoberta por pastores, que a passaram a venerar.
D. Fuas Roupinho, alcaide-mor do Castelo de Porto de Mós, tinha por hábito caçar nesta região. Conta a lenda que também ele descobriu a imagem e a venerou. Algum tempo passado, uma manhã de nevoeiro, a 14 de Setembro de 1182, perseguia D. Fuas um belo veado quando o viu desaparecer no precipício. Alarmado pelo perigo, D. Fuas pediu auxilio à Virgem e logo o cavalo estacou salvando a vida ao cavaleiro. Em acção de graças, mandou D. Fuas Roupinho construir a Ermida da Memória.
Venerada desde então, a imagem teria dado origem ao nome do lugar – Sítio de Nossa Senhora de Nazareth.
















 O coreto encontra-se no Largo da Nª Srª da Nazaré e foi mandado erguer em 1897 pela confraria de Nossa Senhora da Nazaré.












Padrão de Vasco da Gama


 Em 1939, foi colocado no Sítio, perto do Bico da Memória e da Ermida, um Padrão comemorativo da vinda do Almirante Vasco da Gama à Nazaré.
De acordo com a tradição o bravo navegador, antes de embarcar à descoberta do caminho marítimo para a Índia, veio como peregrino à Senhora da Nazaré. Aqui, invocou a Sua protecção e trocou a grossa corrente de ouro que trazia, pelo colar de contas da Virgem. Dizem que à passagem do Cabo das Tormentas se levantou um grande temporal pondo em perigo barcos e homens, então o Almirante atirou o colar da Senhora às águas, que logo se acalmaram.
Após o regresso a Portugal, veio novamente D. Vasco da Gama ao Sítio da Nazaré, como romeiro, agradecer à Virgem as graças recebidas, oferecendo-lhe um precioso manto.






Vendedoras de doces no Sitio.








Vale a pena ficar algum tempo no Sitio a comtemplar as magnificas paisagens...































Artesanato típico à venda no Sitio.


















E para terminar a  visita a esta bela localidade não podemos partir sem provar a excelente gastronomia! 
A escolha só podia ser peixe!
Caldeirada à Nazaré e peixe fresco pescado à linha pelos pescadores da vila! Palavras para quê... estava delicioso!



















Boa viagem!

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